quinta-feira, 31 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
(2) o primeiro
Como se o mundo se
incendiasse
nós
agarrados não tínhamos presente
não desejávamos futuro
éramos apenas nós
no frio da noite
clandestina
sem luz, sem clarão
sem rumo
pés sobre línguas húmidas,
desejos,
entre a folhagem
da selva de cimento
nós
que desejámos ser homens
na razão e no corpo
beijávamo-nos,
incendiávamos o mundo.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
6.
As luzes dos foguetes
extinguem-se
no teu rosto e eu
tenho que te ver só mais um dia
para dizer que valeu a pena
o sacrifício
o maço de tabaco.
Tenho que ser teu para
que nada me possa matar.
As luzes da cidade vão
afogar-se ao teu rosto e eu
tenho que fazer-me teu
só mais uma noite.
A noite
que sangra em mim,
por ti,
porque um dia
já não serás meu.
2009 (?)
sábado, 19 de maio de 2012
(dez)
Deambulamos pela rua de mão dada. De dez em dez minutos olhas para mim com aqueles olhos que me tiram da escuridão. Dizes-me baixinho: eu amo-te. E assim continuo de mão dada e com um sorriso curto, um sorriso de quem sabe que o amor é visita frequente.
Tu: amo-te e assim quero continuar.
Nem que o dia não tenha amanhã, eu quero acordar contigo ao meu lado. Continuas como olhar ritmado, continuo a sorrir. A sorrir teimosamente para o vazio.
Uma ideia: um dia tudo isto acaba e que é feito de mim? Volto de novo para a sarjeta à procura de outro como tu? Como mesmo cabelo, os mesmos olhos brilhantes, a mesma boca carnuda. A música bate levemente, cria a moldura para esta janela, para o nada.
Fazes-me falta.
A música bate-me levemente e eu
ponho-me de joelhos, como se tu fosses voltar para esta casa onde nunca estiveste. Retomando a ideia: um dia tudo isto acaba e eu não existo mais, deixo de ter espelhos. Mostro-te como é possível cometer pequenos crimes mesmo fechado em casa, sem sair da cama. Pela noite dentro conto o tempo em que me fecho em copas, conto o tempo que não me beijas, que não me tocas, que não fazes amor comigo. Do meu ponto de vista, se é que tenho um, tudo isto é inabitável, sem tecto e sem chão. A solidão deveria ser pena capital, mas que fiz eu de tão errado?
Bruxelas, Dezembro de 2011
sexta-feira, 18 de maio de 2012
I
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me fez ouvir o primeiro tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina - porquê eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.
Clarice Lispector, "Mineirinho"
Clarice Lispector, "Mineirinho"
Aforismo 1
Só existe estado por falta de uma massa culta e com consciência social. "A minha liberdade termina quando entra na do outro" - devia estar no nosso sangue para que assim conseguisse-mos viver sem depender de ninguém, apenas de Deus que é a unidade de todos nós e do meu corpo com a unidade dos tempos.
5
Quando o meu corpo vai corre e treme
Sinto que nada nem ninguém me para
Quando a noite aperta e eu sozinho no meio da multidão
Sem nada nem ninguém fechado numa bolha de ar
Sinto que nada nem ninguém me para
Sinto que nada nem ninguém me para
Quando a noite aperta e eu sozinho no meio da multidão
Sem nada nem ninguém fechado numa bolha de ar
Sinto que nada nem ninguém me para
Aquelas Janelas
Por janelas te vi por grades de metal grosso
tive-te em sonhos terrivelmente privados
nunca te toquei apenas de olhos fechados
fui teu num nada terreno e carnal
pertenci-te em sonhos e desejos
apenas em sonhos foste meu
nunca na crua realidade nem à incendiária luz do diz
nunca fui teu em pleno nem a metade
os dias serenos e o nosso eco na ponte
foi sonho de olhos fechados
de dias serrados por grades de metal grosso
tive-te em sonhos terrivelmente privados
nunca te toquei apenas de olhos fechados
fui teu num nada terreno e carnal
pertenci-te em sonhos e desejos
apenas em sonhos foste meu
nunca na crua realidade nem à incendiária luz do diz
nunca fui teu em pleno nem a metade
os dias serenos e o nosso eco na ponte
foi sonho de olhos fechados
de dias serrados por grades de metal grosso
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