Que saudades tinha da praia, da
rebentação das ondas e da areia entre os dedos dos pés. Como senti falta desta
calma aparente de crianças a berrar ao chutarem uma bola, desta calma fingida
no meio do caos. O mundo cai a cada
instante do teu respirar, como uma pedra num charco. O mundo cai e está tudo
dito. A praia – horizonte desta minha saudade – expande-se a cada instante
perante os teus olhos, e eu? Deito-me na toalha de tronco nu a tentar ganhar
alguma cor no corpo. O sol queima-me a pele a passos largos enquanto dormes. A
tua pele bronzeada. Neste mar de saudade em que cada página é areia
adquirida, o mundo cai. O nosso mundo cai enquanto ao sol nos beijamos. Que
recordações são estas que bebem deste mar salgado? Perguntas: tens medo do útero,
dessa matéria maternal de sangue e pus? Respondo-te em silêncio, ou melhor,
deixo que o som da rebentação te conte a história do meu parto de água salgada,
algas e espuma branca. Encontramo-nos na praia, onde a areia se mistura na água
salgada. Encontramo-nos num só corpo. Gostava de ser simples como todos estes elementos
e corpos que se misturam. As coisas simples são mais felizes e têm mais vida.
Mesmo na praia estou morto. Pergunto-me
em que momento deixei de viver neste mar de banalidade, em que momento peguei
na arma, apontei á cabeça e puxei o gatilho com a certeza que só um homem tem.
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